Não somos máquinas, mas também travamos

Sabe quando você abre muitos programas ao mesmo tempo no computador – ou muitas abas no navegador – e de repente a máquina trava – ou pelo menos demora um tempão para responder? Pois é exatamente desse jeito que eu tenho me sentido já há algum tempo. É uma sensação estranha, que bloqueia qualquer ação ou reação.

O mais interessante é que, apesar de muita gente se sentir assim, somos incapazes de admitir que estamos esgotados, paralisados, como se isso fosse algum tipo de falha de caráter na era da produtividade.

Tarefas simples, que a gente faria em poucos minutos, geralmente levam o dobro, triplo do tempo para serem concluídas. Isso, claro, quando conseguimos seguir adiante e fazer algo, porque há momentos em que a gente literalmente trava, olhando para o nada. O cérebro frita, o corpo não responde.

Não sei se você já teve essa sensação em algum momento.

O mais curioso é que não é que eu não quero fazer algo. Eu simplesmente não consigo. Daí logo começo a ouvir aquela voz dentro da minha cabeça me dizendo que a culpa é minha, quem mandou assumir mais do que podia. Agora tem que fazer. Se vira. E quando menos espero, lá estou eu me empurrando, obrigando a mim mesma a continuar. Porque é isso o que a gente faz, não é?

A gente engole o choro, a raiva, o cansaço, o sapo… e continua.

Continua porque não quer que os outros pensem que não damos conta, que somos fracos ou frágeis. Continua porque não quer admitir para si mesmo que está no limite.

O sofrimento é tão grande que até os momentos de lazer se transformam em tortura. Você sabe que precisa descansar, se distrair, mas não consegue desligar aquela voz na sua cabeça que te diz que você deveria estar fazendo algo da sua lista de tarefas infinitas. Fazer a social se torna mais uma tarefa insuportável que você precisa cumprir.

Eu sei que ter chegado a esse ponto é responsabilidade minha. Isso ocorre quando a gente acredita que dá conta de mais coisas do que realmente consegue, combinado com um perfeccionismo absurdo. Pelo menos comigo é isso.

Seria muito legal chegar aqui e dizer que eu tenho uma fórmula mágica para resolver isso, mas infelizmente não tenho. Mas posso te dizer que, se você já se sentiu ou está se sentindo assim, você não está só. E que pedir ajuda não faz uma pessoa ser menos digna, muito pelo contrário. Seguimos.

**Foto: Escultura no Museu Rodin em Paris (Arquivo pessoal/Amanda de Almeida)

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